Por: Rodolfo Costa Jornalista do Correiro Brasiliense
O vencedor da disputa mais acirrada da história do Senado é um homem pouco propenso a fazer declarações públicas, mas muito ativo nas articulações políticas. Depois de quatro anos de mandato longe dos holofotes, Davi Alcolumbre (DEM-AP) é agora o chefe do Congresso, o terceiro na linha da sucessão presidencial, o senador que derrotou o MDB, partido que presidiu a Casa em 30 dos 34 anos da nova República. Será lembrado daqui em diante como o parlamentar que impôs a Renan Calheiros (MDB-AL), que postulava a presidência pela quinta vez, sua maior derrota eleitoral.

“Davi não é Davi. Davi é Golias. É o novo presidente do Senado e eu retiro minha candidatura", disse o senador alagoano em tom de protesto, ao sair da disputa na tarde deste sábado (2), quando percebeu que seria derrotado mesmo com a votação secreta pela qual tanto lutou.

Na presidência em exercício do Senado, por ter sido o único remanescente da Mesa Diretora anterior em meio de mandato, Alcolumbre usou o microfone nessa sexta (1º) por mais tempo do que em todos os seus quatro anos anteriores na Casa. Desde fevereiro de 2015, discursou apenas sete vezes, conforme os registros oficiais. Em três oportunidades para defender o impeachment da então presidente Dilma.

Seu último pronunciamento até sexta havia sido feito em 19 de fevereiro de 2018, há quase um ano. Na ocasião, homenageou Macapá, capital de seu estado. Em 2017, ele sequer fez uso da tribuna. Foi também o único dos nove candidatos a presidente do Senado que evitou a imprensa. Investiu seu tempo nas conversas com seus eleitores – os novos e os remanescentes senadores. Vários estreantes se comportaram como veteranos ao defender sua candidatura em plenário.

De onde vem a força de Davi?
Senador:Davi Alcolumbre (DEM)Novo Presidente do Senado
Rejeição a Renan

Durante a campanha à presidência do Senado, Alcolumbre enfrentou um problema extra. Sua aspiração se chocava com o fato de o DEM, uma bancada relativamente pequena, possuir três ministros (Casa Civil, Saúde e Agricultura) e a presidência da Câmara. “Querem o Senado também?”, estranham vários senadores. Mas ele se alimentou de um sentimento que é mais forte em uma instituição fortemente renovada: o de absoluta rejeição a Renan, visto como expressão mais odiosa da “velha política”. O receio era que uma quinta passagem do alagoano pela presidência do Senado comprometesse a imagem de todos os senadores.

Daí porque os parlamentares anti-Renan, inicialmente distribuídos em diversas candidaturas, há semanas não pararam de se reunir. O plano era todo mundo se juntar no segundo turno contra o adversário comum. Com a desistência de Renan e os 42 votos que recebeu – um a mais que o exigido para vencer no primeiro turno – a fatura foi liquidada antes.

Nessa sexta, Alcolumbre ficou impassível aos protestos dos colegas que o acusavam de usar indevidamente da cadeira para favorecer sua candidatura. Depois de suspender a tumultuada sessão, não pôde ocupar a cadeira novamente neste sábado por determinação do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que o afastou da função por também ser candidato, anulou a decisão do plenário de abrir a votação e ordenou que o voto tinha de ser secreto.

“Não acreditava que ele tivesse pulso firme. Ele se desgastou muito, mas foi um desgaste consciente”, avaliou o senador Lasier Martins (PSD-RS) pouco depois da suspensão da sessão dessa sexta.

A intervenção de Toffoli parecia inviabilizar os planos de Alcolumbre. Mas ele conseguiu aglutinar em torno de si o apoio dos outros candidatos que enfrentavam Renan. As últimas negociações foram articuladas no gabinete do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) horas antes do início dos trabalhos neste sábado.  Diante do desgaste de ontem, o grupo cogitou até adotar um terceiro nome. Mas desistiu da ideia e preferiu sentir o clima em plenário.