Meus pais estavam errados. Os pais dos meus pais também. E provavelmente várias gerações que os antecederam. A cultura indígena desconstrói a nossa lógica de acúmulo de bens. Caça-se, hoje, o necessário para manter-se vivo. Em outras palavras, o agora é o que interessa. Amanhã é um outro momento, cheio de variáveis e novas possibilidades. Trocando em miúdos, é só mais uma outra lógica de enxergar a vida.
Ao visitar recentemente comunidades quilombolas, no Jalapão (TO), me deparei com realidade parecida: famílias contempladas pela natureza, com fervedouros em suas terras que atraem a atenção dos turistas maravilhados pelo fenômeno que só ocorre lá. E as benfeitorias? Por que não reinvestem ali parte do que arrecadam para maximizar os lucros com a exploração dos atrativos turísticos? A resposta de um deles – o “Ceiça” - parece idiota sob a nossa ótica capitalista, mas é de uma simplicidade e sabedoria que impressionam: “Pra que? Muita gente sai daqui, corre, corre na cidade grande pra ganhar dinheiro. Luta feito doido e, no tempo livre, volta para a natureza para relaxar no fim de semana e fazer o que mais gosta - pescar. Prefiro ficar por aqui mesmo e seguir pescando todo dia. Assim, encurto o caminho”, responde sorrindo.
Neste instante, me senti um idiota. Era exatamente o que eu estava fazendo lá. Este desconforto me fez refletir sobre como iria desconstruir esta engrenagem a que fui submetido culturalmente e que me distancia da premissa de que precisamos de muito pouco para sermos felizes. E que as coisas mais estruturantes de nossas vidas não são coisas.
Flávio Resende-Jornalista e Coach |
*Flávio Resende é brasiliense, comunicador, jornalista, empresário na área de Comunicação Empresarial, coach ontológico e aprendiz das coisas do sentir e de tudo mais que couber nesta vida.
Por:Flávio Resende
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