A pele é o órgão que nos veste, que nos protege e que nos
identifica. Mas a pele é também o órgão que mais facilmente fica à mercê das agressões externas. Falamos com o dermatologista Miguel Trincheira sobre o impacto do sol e da poluição naquele que é o maior órgão do corpo humano.
Somos dos países com mais sol, mas ao mesmo tempos dos que mais carece de vitamina D. A exposição solar por parte dos portugueses resume-se, na maioria das vezes, aos meses de verão e o resultado é mesmo esse que está a pensar: golpes de sol, escaldões e possíveis cancros cutâneos.
O sol é um aliado da boa saúde e disposição, mas, nos dias que correm, é também um dos maiores inimigos da pele. "Nitidamente, o fator mais desenvolvido no envelhecimento cutâneo e nas alterações neoplásicas da pele é a exposição solar".

Segundo o médico dermatologista Miguel Trincheiras, "o cancro cutâneo sofreu um grande pico de incidência no final do século passado e início deste, resultado de hábitos de exposição solar que foram adquiridos, essencialmente, nos anos 50 e 60 e em que a ação do sol sobre a pele não era ainda totalmente conhecida".

Neste momento - e mesmo com a exposição solar exagerada e desprotegida como um autêntico 'atentado' à saúde - "já existem muitas campanhas de sensibilização", algo que leva o especialista a acreditar que "a tendência será para haver uma redução a médio prazo dos casos de cancro cutâneo, sobretudo aqueles que dependem diretamente da exposição à radiação ultravioleta, porque existem cancros cutâneos cuja relação direta não é tão incidente, como é o caso do mieloma maligno, que é tão somente o cancro cutâneo mais mortal, mas felizmente o menos frequente. Não está diretamente relacionado com a quantidade de sol que é apanhada, mas parece ter mais relação com golpes de sol apanhados na juventude".

Ao Lifestyle ao Minuto, o especialista que fez também uma previsão sobre o futuro da dermoscomética aponta ainda o dedo ao impacto nocivo que a poluição ambiental tem na saúde da pele.

Apesar de ser "evidente" que "alguns tipos de produtos ou sabões" podem aumentar a predisposição para "o aparecimento de outros tipos de patologias não tumorais, como problemas alérgicos, eczemas, agravamento de patologias inflamatórias cutâneas, como a psoríase", a verdade é que, para o especialista, não estamos "numa fase em que no futuro haja um agravamento das doenças cutâneas por causa dos tópicos que se aplicam, mas sim por outras razões, como a poluição, que é algo de muito sério e a industrialização mundial é cada vez maior".

Dermocosméticos têm, sobretudo, o efeito preventivo e, de alguma forma, aliviam o envelhecimento cutâneo
Diz o dermatologista que os "poluentes atmosféricos podem ser uma causa de agravamento cutâneo" no futuro e estar ainda "na origem de uma série de problemas que podem vir a agravar-se a tornar-se mais frequentes no futuro". Encontrar soluções que atenuem o impacto da poluição, tal como se encontraram outrora os protetores solares, é um caminho que já tem vindo a ser feito. E é aqui que entra um dos produtos mais em voga na cosmética de hoje: os anti-poluição.

Tal como explica o dermatologista, os "dermocosméticos têm, sobretudo, o efeito preventivo e, de alguma forma, aliviam o envelhecimento cutâneo", mas, no que diz respeito ao combate da ação da poluição, os cremes podem mesmo ter um papel ainda mais importante, uma vez que criam "barreiras que são colocadas na pele".

Porém, desengane-se se pensa que a pele fica totalmente protegida só pelo simples facto de usar um destes cremes. A proteção feita é ligeira e deve respeitar duas situações: "em primeiro, o tipo de agressão dos elementos externos na pele, e em segundo, a barreira cutânea tem de ter em conta que a pele necessita de eliminar uma série de substâncias, tem de eliminar sebo, tem de eliminar suor, tem de eliminar calor e, portanto, essa barreira tem de permeável de alguma forma, não podemos 'tapar' a pele, se não fazíamos uma pintura plástica em toda a pele e acabávamos por pôr em causa todas estas trocas entre o nosso interior e exterior, para além de que podemos causar problemas oclusivos a nível de glândulas sebáceas, com o aparecimento de patologias inflamatórias".

"Esses cremes de barreira existem há já muito tempo mas não podem formar uma barreira total, tem de ser parcial, porque é preciso deixar a pele eliminar os elementos que precisa de eliminar", conclui.